O governo federal estuda elevar a idade mínima para aposentadoria de 65 para 67 anos. A justificativa é conhecida: o envelhecimento da população e o risco de desequilíbrio nas contas da Previdência. Mas, mais uma vez, a conta recai sobre o trabalhador comum, enquanto privilégios históricos de políticos, magistrados e altos servidores permanecem intocados.
A raiz do problema previdenciário não está no pedreiro, na professora ou no motorista de ônibus que terão de trabalhar mais dois anos. O maior peso vem de categorias privilegiadas que se aposentam com salários integrais, muitas vezes em tempo reduzido e com benefícios muito acima da média nacional. O desequilíbrio nasce justamente nessa distorção: quem ganha menos paga a conta de quem ganha mais.
A comparação internacional, frequentemente usada como justificativa, também se revela frágil. Países europeus exigem idades semelhantes para a aposentadoria, mas oferecem em contrapartida melhores condições de vida, acesso a saúde de qualidade e infraestrutura que permitem ao cidadão chegar à velhice em condições de seguir trabalhando. O cenário brasileiro é bem diferente: milhões começam a trabalhar muito cedo, enfrentam jornadas pesadas e já chegam aos 50 anos com limitações físicas.
Exigir que esse trabalhador siga até os 67 anos em atividade, sem tocar nos privilégios de cima, aprofunda a desigualdade e aumenta a sensação de injustiça.
A reforma da Previdência, nesse formato, não é reforma: é ajuste contábil feito às custas de quem menos pode resistir. O verdadeiro debate deveria mirar os regimes especiais que drenam recursos e perpetuam uma elite blindada a qualquer mudança. Sem isso, qualquer tentativa de equilíbrio será apenas um remendo.
Se o objetivo é justiça, não se pode exigir mais sacrifícios de quem já sustenta o sistema. A crise da Previdência não se resolve aumentando a idade mínima, mas enfrentando os privilégios que sangram o orçamento público e corroem a confiança da população.