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Os bancos brasileiros estão fechando as torneiras do crédito imobiliário. Em 2025, as instituições financeiras reduziram quase pela metade o volume de financiamentos para a construção e compra de imóveis, dificultando o acesso à casa própria e travando o mercado da construção civil.

Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), os financiamentos à produção imobiliária caíram cerca de 50% neste ano, o que compromete o lançamento de novos empreendimentos e encarece os imóveis já disponíveis. O motivo, dizem analistas, vai muito além da “cautela bancária”: envolve juros altos, queda da poupança e aumento do risco percebido pelos bancos.

Juros altos e menos dinheiro disponível

Com a taxa Selic ainda elevada, os custos dos financiamentos subiram e tornaram os contratos menos atrativos. Ao mesmo tempo, a poupança — principal fonte de recursos para o crédito habitacional — encolheu, reduzindo o volume de dinheiro “barato” para empréstimos de longo prazo. Sem recursos suficientes, os bancos passaram a priorizar clientes com renda alta e perfil de baixo risco, deixando a classe média e os trabalhadores informais praticamente fora do mercado.

Critérios mais duros e entradas mais caras

A Caixa Econômica Federal e outros grandes bancos aumentaram o valor de entrada exigido nos financiamentos. Em alguns casos, a entrada mínima passou de 20% para até 50% do valor do imóvel, o que torna o sonho da casa própria inviável para a maioria dos brasileiros.
Além disso, as análises de crédito estão mais rígidas: histórico bancário, estabilidade no emprego e renda comprovada passaram a ser critérios decisivos para aprovação.

Construtoras em alerta e o risco de retração

Com as linhas de crédito travadas, construtoras relatam dificuldades para financiar obras já aprovadas. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alerta que o setor pode sofrer uma retração semelhante à de 2015, quando o crédito imobiliário despencou e milhares de empregos foram perdidos. Sem novos lançamentos, a oferta de imóveis tende a cair, o que deve pressionar os preços para cima — agravando ainda mais o cenário para quem busca comprar.

O impacto direto na população

Para o cidadão comum, o resultado é claro: entrada mais alta, parcelas maiores e menos acesso ao crédito.
Quem não consegue comprovar renda formal — e depende de pequenos negócios ou trabalho autônomo — dificilmente passa pela análise dos bancos.
A consequência é o crescimento do aluguel e a estagnação da mobilidade social, num país onde o déficit habitacional já supera 5,8 milhões de moradias, segundo o IBGE.

O que está por trás

Economistas apontam que o risco de inadimplência e a falta de previsibilidade econômica também explicam o aperto dos bancos. Com as incertezas fiscais e o aumento do endividamento das famílias, as instituições preferem “esperar” a correr riscos. Na prática, o sistema financeiro protege-se — e transfere o custo da insegurança econômica para o cidadão comum.

Um problema que exige resposta

Especialistas defendem que o governo precisa atuar com políticas de crédito habitacional de longo prazo, ampliando o papel de programas como o Minha Casa Minha Vida e criando fundos garantidores para quem não tem histórico bancário formal.
Sem isso, o país corre o risco de ver a casa própria voltar a ser um privilégio de poucos, e o setor da construção civil — um dos principais geradores de emprego — mergulhar em nova crise.

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