O fenômeno político-religioso mais marcante do Brasil contemporâneo é o crescimento do eleitorado evangélico — e, com ele, a consolidação de uma base moralmente conservadora e majoritariamente inclinada à direita política.
De acordo com o Censo Demográfico 2022 do IBGE, os evangélicos já representam 26,9% da população brasileira, cerca de 47,4 milhões de pessoas. Em 2010, eram 22,2%. Enquanto isso, os católicos caíram de 64,6% para 56,7%, o menor índice da história. A tendência indica que, se o ritmo atual for mantido, o Brasil poderá se tornar de maioria evangélica até meados da próxima década.
Mas não é apenas um fenômeno religioso — é também sociológico e político. Pesquisas do Datafolha mostram que 37% dos evangélicos se identificam com a direita política, contra apenas 22% de centro e 16% de esquerda. É o grupo mais conservador entre todos os segmentos religiosos. Ainda segundo o instituto, 50% avaliam o governo Lula como ruim ou péssimo, e apenas 19% o consideram bom ou ótimo, sinalizando um afastamento crescente entre esse público e o atual governo.
Em termos sociais, o eleitor evangélico típico pertence às camadas populares, com menor escolaridade e renda média entre um e dois salários-mínimos. Segundo o Datafolha, 58% são mulheres e 59% se declaram pretos ou pardos — ou seja, a nova força política do país nasce nas periferias, fora dos grandes centros tradicionais de poder.
Um estudo do Poder360, intitulado “Vai na fé! O impacto eleitoral do crescimento dos evangélicos”, revelou que o número de igrejas evangélicas saltou de 21 para 33 por 100 mil habitantes nas últimas duas décadas. Esse avanço territorial coincide com a maior presença política dos líderes religiosos e a formação de bancadas evangélicas robustas nos legislativos.
Os evangélicos de centro ou esquerda existem, mas são exceção. O padrão predominante é de forte alinhamento com o discurso pró-família, antiaborto, pró-liberdade religiosa e contrário à ideologia de gênero — bandeiras que se tornaram marcos do conservadorismo moral brasileiro.
Sociólogos observam que esse fenômeno tem duplo efeito: enquanto reorganiza o eixo do debate político, também ressignifica o conservadorismo — que, no Brasil, passa a se confundir menos com a elite e mais com o povo. O conservadorismo, neste caso, não nasce do privilégio, mas da fé.
A influência desse grupo no pleito de 2026 será decisiva. A tendência é que o eleitorado evangélico continue a funcionar como pilar do voto conservador, tornando-se o maior contingente politicamente ativo fora do espectro de esquerda.
No Brasil atual, a igreja de bairro tornou-se mais que um templo: é um espaço de organização social, de pertencimento e, cada vez mais, de resistência cultural.
Fontes:
IBGE – Censo Demográfico 2022.
Datafolha – Pesquisas de opinião 2023–2024.
Poder360 – Vai na fé! O impacto eleitoral do crescimento dos evangélicos (2025).
CNN Brasil, Veja, CartaCapital, DCM.